Matuto é igual a inhame no atoleiro,
Igual arroz no alagado,
Igual café de serra acima,
Igual juá no descampado.
Porque Matuto que é Matuto
é parte do chão que pisa
e do chão em que vive e planta.
Matuto como árvore tem raiz no seu chão.
Matuto inaugura o dia antes da luz
Para o sol poder vir e brilhar.
É ainda noite que se finda
Seu café já está passado.
Matuto é igual qualquer erva do lugar,
É igual feijão de terra seca,
Igual milho no roçado,
Igual capim que dá na cepa.
Matuto na primeira dobra do dia
Já ruma para sua tarefa com enxada
E matula a tira colo no embornal.
Deitar mato e até sisal.
Matuto é igual inhame no atoleiro,
É um cedro de cruzeiro,
Matuto se confunde com seu chão,
Rega a terra com suor e devoção.
De sol a pino e força a cabo,
Matuto volta embora do roçado.
Para o lado de uma cabocla prendada
E a criançada eirada.
Matuto é igual ao café novo
Coado por sua cabocla,
É suave e doce
Como o mel de favo na boca.
Matuto tem fé, fogo e melodia.
Fé no santo de sua novena,
Fogo no peito por sua pequena,
Melodia na viola tão serena.
Matuto pega boi pelo chifre,
Cavalo matuto domina pelo laço,
Cachaço no mangueiro é no braço.
E sua cabocla com rosas num belo maço.
No tempo da estiagem dessas que dura
Sofre com as plantas e não lamuria.
Leva o gado para beber água,
No açude que não esvazia.
Quando planta não apressa a semente,
Sabe que a semente tem o seu tempo,
Tem sua hora e seu momento
De desdobrar fora seu rebento.
Matuto canta para lua e ponteia sua viola
O silêncio sem o canto do sabiá,
É uma tristeza difícil de suportar
Passa a noite, passa bem já.
Porque Matuto tem jeito de Jeca.
Feito marungo que corta jaca.
Não entrega a labuta certa,
Tudo faz pela cabocla amada.
Amarildo Serafim 17/07/07