terça-feira, 16 de novembro de 2010

Das Dores de José


Sou apenas um José das Dores
Não é pelas dores que tenho,
Que das Dores eu sou,
Mas pelas dores de uma Santa,
A quem minha Mãe me consagrou.
Pois, antes de ser parido,
Muitas dores lhe causei, e se a tal santa
Desse-lhe sorte, das dores não viverei,
E ao auxilio da Santa, José das Dores me tornei.

Essa dor foi a menor pudesse ela
Ter levado a vida, teria evitado outras
tantas as dores desta vida.
As dores de quem se vai embora,
Chorando sua desvalia,
Chorando a seca do sertão, esta terra combalida.

Passada as dores do parto, vieram as
Dores da partida, pois tão seca a terra
Estava que não houve outra saída.
E enquanto o dinheiro deu
Foi de pau-de-arara a nossa ida.
E foi por bem pouco que assim se deu.

Logo me vi com o pé na trilha.
Trilha hora incerta, e hora só desilusão,
O pé descalço na terra seca,
Pisava sem pena cada torrão.
Mas o torrão do sertão é forte
E o pé é que não aguentava a humilhação.

Ser José das Dores, dor no nome e no suportar.
Possuir a dor dos José, cada José que caminhar.
José que canta, encanta e afugenta suas dores.
Na procissão da Bendita Santa,
que bem mais que nobre esperança da cada José sustenta.

Antes de raiar o dia e por o pé descalço no torrão.
Fazer promessa de cem missas e sete velas,
Requerendo favor do céu: chegar mesmo aos pedaços
Na outra ponta do caminho, quiçá não seja lá
Onde finda as flores, deixa órfão meu cuitelinho.

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