quinta-feira, 28 de março de 2019

Última Tentação


Livra-me Cristo do calor desta morena,
Livrai-me, sobretudo, dos braços e mãos serenas.
Livrai-me de seus olhos castanhos em tom profundo.
Livrai-me, vos peço, por tudo neste mundo.

Afastai para longe seus lábios rosáceos e tenros.
Afastai sua voz que, em mim sentida, causa tormento.
Afastai de mim seus seios geminados, equidistantes;
Solitários, equiláteros, dissonantes.

Livrai-me das suas curvas, retas, ângulos possíveis e previsíveis.
Livrai-me de sua beleza, doce, quente e apetecível.
Livrai-me, Cristo, me entenda! Me atenda, mas não agora.
Por hora, deixai-me cair em tentação.

Solstício do Desejo

Desceu o sol do firmamento 
Em humana forma feminina.
Desceu a noite enquanto a lua 
Nua rondava faceira e fina. 

Desceu quente, brilhante, atávica
Iluminando o quarto e a solidão. 
Desceu carente, palpitante estava 
Exalando suor, perfume e paixão. 

Muitos há, que ainda se digam
Menina moça este corpo habitar. 
Inocência não mais se via, 
Deixou há muito tão doce lugar. 

Ah luz solar emanando de tez morena. 
Ah rosáceos lábios a conformar rosto de tal pequena. 
Teu olhar perdido ao longe em pensamentos que te serena.
Emaranhada naquele instante que teu corpo o meu apascenta.

São assim os beija-flores


São assim os beija-flores mata adentro vem e vão,
Eis tanto indo e vindo, deixaram doce meu coração.
Uma bela em forma e cor, com encantos de colibri,
Tal bela roubou-lhe as cores, ficando ela tão furta-cor.

Não bastasse só encantos que o ser mulher lhe conferia,
Invejou o encanto da ave que ao meu jardim coloria.
Deixou-lhe monocromático, sem o esplendor de cada dia,
Pobre colibri descorado, alvejado pela minha kalipigia.

Não choreis, pobre ave, perdoe a inocência desta menina.
Tão absorta ficara ela na beleza de suas cores e plumas
Que sequer necessitara de mais brilho, só meus amores.
Sequer necessitara de outros cantos, só meus louvores.

Devolvei ao colibri, ó minha Vênus, toda beleza excedente.
Pois, a beleza que nele é justa em vós é sempre torrente.
A luz que nele resplandece de vós sempre emanente.
Os lábios e o corpo que me acalentam é o vosso sempre.

Olivais da Normandia


Ah rosáceos lábios conformados, ostentados por tez serena.
Ah francos olhares discretos, díspares, distantes e distópicos.
És prima obra do demiurgo que dentre tantas nela só se “aperfeitou”.
Teu calor invade os trópicos secos de minhas recônditas intenções.

Diz-me: Que faço eu de tão severo, para merecer tua ausência?
Que pecado ou falta grave pra castigar-me sem clemência?
Meus pecados só o são por desejar-te sem pudor ou contrição.
Quero só aplacar o furor destes impasses em profusão.

Pra que eu saiba, diz-me, porque me privas dos teus olhos olivais?
Pra acalmar meus dissabores: porque dista de mim teu corpo invernal?
Pra que eu sorria: vem tocar teus lábios nos meus tão suplicantes.
Pra que eu viva: vem perder-se em nossos desejantes corpos abissais.

Quero eu, e quero tanto, teus olhos verdes primavera de além-mar!
Quero eu, e quero tanto,  teu corpo alpino e úmido sôfrego a desejar!
Deixai que bailem juntos, emaranhados, indistintos, indissociáveis.
Deixai que sonhem juntos, exauridos, exaustos, extenuados, eternamente.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Poesia de verso só

A eternidade começa no exato instante em que beijo seus lábios de rosa, acaricio tua face marfinizada e contemplo nos teus olhos o verde do mar cativo.
Tudo mais é perenidade.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Pelos trigais maduros

São as horas todas do dia,
O dia em todas as horas,
Tua presença sempre me guia,
Tua ausência me devora.
Me consomem a força e a mente
Confabular teus todos trajetos.
Imaginar teus todos os atos,
Descobrir teus momentos secretos.
Doce mulher de madeixas vitrais,
Translúcidos cachos ao prata lunar,
Maltados, cevados aos solares invernais.
Busco-te pela noite, Busco-te pela cama.
Quiçá em todo canto a suspirar por quem ama.
Me perco em seus cabelos como em trigal maduro.

domingo, 9 de novembro de 2014

Breve Soneto do Tempo (ou do tempo que ainda se tem)

Que tal fazermos como nos velhos tempos,
Ao invês de postar na rede, arquivar no pensamento?
Ao invés de tudo guardar, para pinçar um só instante,
Deixar a vida decantar e ver o que boia, obstante.

Porque a vida não é o que fica e sim o que marca.
Tampouco o que cinje, mas o que desata.
E o coração é o garimpeiro de tudo que a memória retém,
É ele que separa do tempo que tivemos o que levamos ao que se tem.

Ah tempo, sábio tempo! Breve tempo!
Quem me dera tê-lo inteiro.Não apenas um momento.
Te quero ao meu dispor e não quero ser teu passatempo.

Ah tempo, ingrato tempo, urgente tempo tiritante.
Para que tanta brevidade, redundante urgência temporal?
Sempre exististe e existirás, contudo nunca foste tão escasso.