A vida é para a morte o que o rio é
para o mar.
Barco de remo ou vela descendo lépido
a singrar.
Destino, caminho: questão de
conjectura.
És água no rio, no mar: questão de
nomenclatura.
A morte vem na ponta da vida, na
vazante do rio no mar.
Como se fosse lã de tecedeira virando
colcha no seu tear.
É uma emenda no fio da trama que se
vai tornando vida.
É rio se tornando mar, é morte
concluindo a vida.
Seria a vida um disfarce colorido e
alegre para a morte?
Seria possível esticar a linha mudar
sua cor ou sorte?
Mas tú, vida, linha pouca e fina linha
já extingue.
Ó vida carretel miúdo, pouca linha e
linha dura.
Resta apenas servir da vida para fazer
renda e tecitura.
Renda em flor que alegra e encanta ou
cobertor de candura.
Flor de renda, ainda que renda, os anos
vivos de amargura.
Tecido para envolver o cadáver
derradeira armadura.
Brilhante poeta
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