sábado, 24 de setembro de 2011

Ladainha das mulheres da Vida

Invocarei as mulheres todas quantas houver na vida,
Para rogar por seus filhos a padecerem na lida.
Invocarei as mulheres mortas, apesar de descrer de outra vida,
Para rogar pelos órfãos deixados sob cuidados outros na partida.

Rogai a mulher seca, que nem sequer abriga semente.
Rogai a mulher fértil, que entrega à luz seu descendente.
Rogai a que trabalha fora e aquela que vadia na rua.
Rogai a que cuida da casa e aquela que um dia vi nua.

Rogai a mulher amada, sem o intento de torná-la princesa.
Rogai a que for princesa sem a certeza de ser amada.
Rogai as mulheres das minas que vagam pelas Gerais.
Rogai as mulheres meninas evitando outras mais.

Rogai a mulher a dar-me leite e aquela sem o pão.
Rogai a mulher negra filha de dura escravidão.
Rogai a mulher magoada, a ferida, a desprezada.
Rogai a mulher que luta e aquela a sofrer calada.

Rogai a mulher descente, bem casada e carente.
Rogai a mulher lasciva, mal amada e indiferente.
Rogai a mulher esperta, cabeça erguida e pra frente.
Rogai a lavradora, cabeça baixa a carpir sem dente.

Rogai a mulher santa, roga igual a prostituta.
Rogai a mulher honesta, roga também a que for puta.
Rogai a menina tenra, roga igual a imatura,
Rogai a mulher altiva, roga também a que for viúva.

Rogai as Mulheres todas quantas hão nesse mundo,
Rogai pelo vosso útero, para que seja sempre fecundo.
Rogai por nós frutos banais de vossos ventres frugais,
Rogai com fé ardente para que não pereçam jamais.

Amarildo Serafim – 23/09/2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Nacionalidade: Brasileiro

Sou mais um integrante
Militante desta massa sem pão.
Filho com identidade,
Abandonado pela mão nação.

Sou mais um retirante
Sem esperança, na espera do sul.
Pra onde caminha meus passos, e
Donde espero nuvens no céu azul.

Sou garçom! Sou garçonete!
Sou trombadinha de canivete!
Tenho talvez culpa, mas não a educação,
Moro numa casa esgueirada no chiqueirão.

Sou pedreiro! Sou dona-de-casa!
Sou empregada sem patrão!
Busco já faz muito tempo,
Poder servir sem ser servidão!

Sou Índio, primeiro dono desta terra!
Sou negro, não vim aqui por minha querela!
Sou europeu, submeti toda esta gente,
Bastou-me o sinal da Cruz e o grilhão da corrente!

(Amarildo Serafim – 30/01/03)